Após a viagem para o sul do Chile e Argentina, em outubro e novembro de 2013, meu marido Oscar e eu iniciamos o ano de 2014 com outra viagem em mente.
Resolvemos conhecer o norte do Chile e planejamos ir até Machu Picchu de moto. E, se íamos até o Peru, por que não ir também para a Bolívia, já que uns dos meus sonhos era andar de moto na famosa ESTRADA DA MORTE.
Mas antes, eu precisava encontrar uma moto para substituir a Harley Davidson Fat Boy, por uma outra moto.
Eu tive quatro Harleys no total, e todas me proporcionaram amigos pelas estradas, boas risadas, muita diversão, além de viagens maravilhosas pelo Brasil e incontáveis passeios bate e voltas.
Primeiro, precisei escolher uma moto que oferecesse conforto, velocidade e que permitisse que eu tocasse os dois pés no chão, porque desta forma sinto-me mais segura. Principalmente se eu fosse realizar umoff road com o chão muito irregular: vale lembrar que sou uma baixinha de 1m56, descendente de japoneses, portanto o fator anatômico não favorece o uso de motocicletas altas. Além disso, não tenho pernas suficientemente fortes para segurar a moto pesada quando muito inclinada.
Após exaustiva procura por vários dias, subindo e descendo nas motos para ver a altura, o Oscar, observou que a BMW R1200R tem um razoável espaço abaixo do banco e que se removêssemos a carenagem lateral daria para fazer um outro banco encostado no quadro da moto.
Enfim moto adquirida e o banco colocado, mas demasiadamente fino e duro, a vista disso, resolvi comprar uma almofada pneumática para viagens longas, que solucionou este problema, me proporcionando conforto para viagens de longa duração.
Apesar de não ser uma moto Trail, com tamanho de aros da roda e suspensão ideais para off road, ela é mais leve que uma Fat Boy, e posso conduzi-la com mais facilidade em terrenos irregulares de terra ou ripio. Tenho este modelo até o momento e realizei inúmeras viagens sem me preocupar se pegaria terra ou asfalto (em Janeiro de 2018, por exemplo, rodei uns 1.000 km de rípio, na Carretera Austral e na Ruta 40. Mais para frente, contarei como foi esta aventura!).
Peguei a moto no início de abril e no dia primeiro de maio, já estava partindo para Machu Picchu, saindo de São Paulo.
São Paulo – Foz de Iguaçu
Foi apenas um deslocamento, pouco mais de 1.050 km rodados, e a viagem de estreia com a moto foi tranquila. Tudo correu muito bem!
Resistência, Argentina
Chegando em Corrientes, na Argentina, tomamos muito cuidado em não trafegar na pista central da avenida, pois na viagem anterior tivemos problema com o policial local. Desta vez, resolvemos nos hospedar em uma cidade vizinha de Corrientes, chamada Resistência, porque ficaria mais fácil sair da cidade e pegar a estrada no dia seguinte. Lá, descobrimos um ótimo restaurante, que se tornou passagem obrigatória em todas as outras viagens que passamos pela região.
Dica:
– Para quem vai pela primeira vez e gosta de um visual mais bonito para tirar fotografias e quer conferir um lindo pôr do sol na beira do Rio Paraná, aconselho se hospedar na cidade de Corrientes. Esta cidade tem mais opções de ótimos hotéis e restaurantes ao longo da avenida que beira o rio Paraná.
Santiago del Estero
Saindo da Resistência, passamos por uma situação bastante inusitada: as estradas estavam cheias de pássaros do tamanho de rolinhas no meio da pista, que se alimentavam de grãos que os caminhões deixavam cair. Por várias vezes esses pássaros chegaram a bater forte na moto, em nós e até mesmo nos capacetes.
Nossa intenção era seguir para Salta neste dia pela Ruta 16, mas quando paramos para abastecer, começou uma pancada de chuva muito forte. Nessas condições, por engano, seguimos sentido à Santiago del Estero. No fim das contas este desvio foi ótimo, pois assim conhecemos uma cidade que não estava no roteiro. Por sorte não tínhamos feito a reserva do hotel em Salta.
À noite, fomos passear e jantar no centro da cidade, que é muito bonita. Fiquei surpresa ao ver as ruas e a praça lotada pela população local. Era um sábado, o que explica essa rotina, que não difere muito das cidades interioranas do Brasil.
San Salvador de JuJuy
Resolvemos ficar em San Salvador de Jujuy, apesar que o plano inicial era ficar em Salta e lá ficamos por duas noites em um hostel muito confortável, espaçoso e ótimo para ficar em grupo ou em família. Agora sim, a viagem começou a ficar ainda mais linda, com as paisagens próximas à Andes.
No primeiro dia, ficamos na pousada pela manhã curtindo o frescor e a chuva, e à tarde fomos conhecer a cidade.
No dia seguinte, partimos pela Ruta 9. Sem pressa e sem definir onde dormir, fomos até Humahuaca, região da Quebrada de Humahuaca, Sierro de Los Siete Colores, Serrania de Hornocal, Tilcara, Malmara e Purmamarca e Salinas Grandes, que mais parecia um lago coberto de neve.
Dicas:
– Eu levei pelo menos duas blusas segunda pele bem finas, quatro ou cinco blusas de manga comprida, muitas camisetas e algumas regatas, duas ou três calças, pelo menos uma jaqueta de passeio para clima muito frio e outra para temperatura amena. Levo também pelo menos duas meias-calças de granulação grossa ou media; elas são ótimas para usar por baixo da calça jeans. De calçado, levo um chinelo, um tênis ou sapatênis e uma bota para passeio noturno (como sou pequena, as roupas não ocupam o espaço)
– E no corpo, vão a jaqueta de moto e a calça com proteção, o ideal é que ela tenha forros removíveis, porque a variação da temperatura é muito alta, correndo o risco de até nevar dependendo da época do ano, e a bota motociclista. Minha jaqueta não tem forro removível e por conta disso eu passo muito calor em determinados lugares. Não levo jaqueta de verão para não ocupar espaço.
– Ah, e como já contei em outro post, quando ficamos mais de um dia no local aproveitamos para levar roupas na lavanderia. Assim, não precisamos levar mudas de roupas para um mês.
Susques
Chegamos em Susques ao final da tarde e ficamos em um hotel confortável e bom, localizado na beira da Ruta 52, antes de Paso de Jana.
É um ponto estratégico, onde a maioria dos motociclistas param para tomar café, abastecer, descansar, tirar fotos e até mesmo colocar mais roupa de frio. Essa região é bastante gelada mesmo em pleno verão, já que está a 3.900 metros de altitude.
Após descarregar a mala e tomar um maravilhoso banho quente, fomos ao restaurante do próprio hotel. Tudo estava bom e delicioso. O atendimento foi ótimo, fizemos amizades com vários motociclistas e conversamos muito sobre motociclismo e viagens, claro!
Assim que cheguei na cidade senti uma leve dor de cabeça e os olhos lacrimejantes, acredito que por conta da altitude. Após um bom sono, acordei muito bem, pronta e disposta para seguir a viagem.
Agora o destino seria San Pedro de Atacama. No caminho, paramos em Paso de Jama para fazer o trâmite na aduana, que foi muito tranquilo e rápido. Enfrentamos uma pequena fila e logo fomos liberados.
Fim da aventura
A aventura foi interrompida na Ruta 27, quando estávamos há 100 quilômetros de San Pedro de Atacama. Infelizmente, sofri um acidente. A motocicleta, que não estava nem há dois meses comigo, teve perda total em pleno deserto de Atacama.
Analisando o acontecido:
Na parte alta da estrada, atrás de uma curva, tinha uma pedra do tamanho de um tijolo e peguei bem de leve na quina desta pedra. Depois já bem para baixo da estrada, enquanto fazia outra curva, não senti o pneu dianteiro no chão … não sei se porque o pneu estava murchando, perdi a curva e andei quase paralelamente nesta estrada por uns 40 metros na areia, para aos poucos diminuir a velocidade e bater em uma mistura de pedra com vegetação. Eu caí de lado e a moto capotou. Quando levantamos a moto, logo após a queda, o pneu dianteiro estava murcho.
A outra versão é que estava em certa velocidade, não senti o chão e perdi a curva. Depois, andei na areia por uns 40 metros e o pneu murchou quando bateu no mato, no momento da queda.
Chegando em São Paulo, fiz questão de encher o pneu e ele não murchou… vai entender.
O importante é que o resultado disso tudo, no fim das contas, foi apenas um hematoma na região das nádegas.
Como resolvemos a situação?
Meu companheiro Oscar não estava comigo no momento do acidente, pois eu tinha parado para tirar algumas fotografias, alguns quilômetros atrás e ele tinha seguido adiante.
A Ruta 27 não tinha sinal de celular e quando eu já tinha me levantado após a queda, parou um casal e logo depois um caminhão cegonha descarregado vindo do Paraguai e a caminho de algum porto chileno.
Depois que o Oscar retornou, achamos melhor carregar a moto no caminhão cegonha e o motorista nos levou até a Aduana Chilena, localizada logo na entrada da cidade. Fomos avisados que não deveríamos deixar a moto no local por vários dias, por ser um pátio aberto. Então resolvemos bater na porta de um morador local e pedimos para deixar a motocicleta até o guincho buscar, após algumas semanas.
No mesmo dia do acidente, liguei para minha amiga, corretora de seguro e também uma motociclista, Marcia Santos. Não precisei fazer nada, apenas esperar que no dia seguinte já estava definido o avião, o hotel em Calama e o translado para Santiago e depois São Paulo. Agradeço à minha corretora pela eficiência e dedicação, e à Porto Seguro, que não decepcionou e deu toda a assistência necessária.
Neste dia passeamos pela cidade para passar o tempo e arrumar a mala, pois agora voltaria de avião.
Nesta mesma noite, peguei o ônibus até a cidade de Calama, fiquei em um ótimo hotel escolhido pela seguradora e no dia seguinte peguei o voo de volta para o Brasil, tudo coberto pela seguradora. Meu companheiro voltou para casa sozinho de moto.
Mas, eu não desistiria de ir para Machu Picchu assim fácil…
Também tive um acidente que o meu jipe deu PT na Patagônia perto de El Chalten. A Porto Seguro me ajudou bastante, mas o guincho teve que vir do Brasil, e tive que providenciar uma série de documentação até para eles levarem o carro.
oi Valter, tudo bem?
Comigo foi assim também. Tive que retornar no país para providenciar os documentos e so depois disso eles foram buscar a motocicleta.
Demoraram para retornar porque o Paso de Jama estava interditada por causa da nevasca.
obrigada por comentar.