Sempre fui apaixonada por desafios, de querer ultrapassar os próprios limites. E a paixão por motos, mais uma vez, me permitiu realizar uma aventura que sempre ficará guardada com carinho na memória.
Em 2011, um amigo motociclista me contou sobre a Iron Butt SaddleSore 1000. A Iron Butt – que significa bunda de ferro – é um verdadeiro teste de resistência para qualquer motociclista: o desafio é percorrer 1000 milhas (1.609 quilômetros) em até 24 horas, pilotando uma motocicleta.
A viagem seria realizada de São Paulo ao Chuí, na fronteira do Uruguai, depois até a cidade de La paloma o que também me daria a chance de conhecer um novo país. Toda essa distância, aliás, não seria o único desafio.
À época, eu não conhecia nenhuma mulher que tivesse realizado essa prova. Pensei então: já passou da hora de quebrarmos essa barreira! Posso não ser a primeira aqui no Brasil, mas desafio lançado, desafio topado. Lá fui eu, única mulher em um grupo de mais 14 homens, para uma das viagens de moto mais marcantes da minha vida.
Além de mim, então, representante da ala feminina no grupo, participaram da aventura os motociclistas Oswaldo. F. Jr, consultor de pilotagem, segurança e resistência e organizador da prova, Fernando Aparecido de Oliveira Pinto, Fernando Pedroso, Francisco Ferreira, Luiz Fernando Rezende, João Candido Botelho Gomes, José Carlos Ribeiro, Lucio Gaviolli, Oswaldo Fernandes Junior, Vagner Coelho Lemos, Ricardo Atacama, Ricardo Teixeira, Roberto Barbosa, Roberto Lima de Halluli e Ronaldo Kuhn.
O trajeto
Às 20 horas do dia 20 de abril, saímos do posto da Rede Frango Assado, na Rodovia Imigrantes, com o objetivo de chegar à cidade de Chuí em um prazo de 24 horas.
Eu pilotava uma Harley Davidson Dyna 1600 cc, rebaixada e com o banco mais fino e o amortecedor mais curto, já que sou baixinha. E esse foi um desafio a mais: apesar de as estradas serem relativamente boas, a moto era muito dura e com isso eu sentia muito qualquer piso irregular ou buracos – o que exigiu de mim, literalmente, uma bunda de ferro! A maioria dos meus companheiros possuía motos no estilo big trail como BMW GS, Ténéré 1200, tinha também algumas V-Strom 1000 , uma Electra Glide e uma Yamaha Midnight Star.
Acompanhei os outros motociclistas e seguimos pela Imigrantes, Padre Manuel da Nóbrega, Régis Bittencourt e Rodovias 101, 116 e 471. Não foi nada fácil, claro. Em muitos trechos, tive também dificuldades com a iluminação noturna da minha moto, precisando até mesmo acompanhar um amigo para aproveitar a iluminação da moto dele.
Como a prova tem que ser concluída em 24 horas, fazíamos apenas pequenas paradas em postos na estrada, para ir ao banheiro, tomar um café e comer alguma coisa rápida. No entanto, mesmo com todos os desafios e o cansaço físico e mental, nosso otimismo e a paixão por moto e velocidade foram determinantes.
E foi assim que, às 17h30 do dia 21 de abril, chegamos finalmente ao Chuí, com toda a alegria de mais um grande desafio conquistado! A Iron Butt era nosso!
E a aventura continuou…
Quem disse que para uma amante de motos ir de São Paulo ao Chuí seria suficiente? De lá, já tínhamos programado um próximo destino: passaríamos a noite na cidade de La Paloma, no litoral uruguaio. Afinal, o que seriam mais 127 quilômetros para quem tinha percorrido mais de 1.610?
Mas foi aí que começou, talvez, uma das etapas mais desafiadoras da viagem. Pegamos uma estrada que beirava morros e montanhas. Já estava escuro e com muita cerração, eu não estava com uma iluminação boa, quando para ajudar, começou a garoar que não permitia que se enxergasse um metro à frente.
E não bastasse o tempo ruim, todo o cansaço de estar há mais de 24 horas sem dormir, eu era uma das únicas que estava sem GPS. Por sorte e solidariedade, um dos organizadores da prova ficou na minha frente, de maneira que eu aproveitasse a iluminação do seu farol e acompanhar até o hotel.
Para se ter ideia, para vencer esse trecho, com piso ruim e quase sem iluminação, precisei andar a 30 quilômetros por hora! Mas, mais uma vez, superando dor e cansaço, finalmente, às 22h30, chegamos a La Paloma.
Depois de dormir e descansar, no dia seguinte, fomos aproveitar o único dia de folga fazendo o quê? Isso mesmo, andando mais um pouco de moto! Percorremos mais cerca de 120 quilômetros até a badalada cidade de Punta Del Este.
Foi um dia delicioso, no qual passamos por um dos cartões postais mais famosos da América Latina, o monumento La Mano, onde celebramos o sucesso da viagem com um almoço especial, contemplando a bela paisagem do mar, em frente ao cassino do Hotel Conrad.
No dia 23 de abril, iniciamos a viagem de volta, saindo de La Paloma e parando em Porto Alegre para pernoitar. No dia 24, saímos de Porto Alegre. A maioria do grupo voltou para São Paulo, mas já que estávamos no Sul, eu e mais dois amigos aproveitamos para coroar o fim da aventura nas belas praias de Balneário Camboriú.
Finalmente, dia 25, voltamos para São Paulo, encerrando a nossa louca – e cheia de alegria e desafio – aventura, com quase quatro mil quilômetros percorridos.
Lembranças e planos
Se o cansaço da prova foi grande, também foi enorme a alegria de ter conquistado mais um desafio que não é para qualquer um.
Até hoje, tenho uma imagem gravada nitidamente na minha mente: estávamos em uma estrada alta, no caminho de La Paloma, e eu vi a lua enorme, linda em meio à cerração. Parecia a imagem de um filme, uma das coisas mais bonitas que já vi!
Então, quer saber se o Iron Butt vale a pena? Sim, vale! Eu espero participar de mais uma dessas provas de resistência. Mas, já que desafios devem ser superados, da próxima quero vir aqui contar para vocês como foi a Iron Butt de 1.500 milhas!
Que show Cecilia! Cada vez mais te admiro mais e mais!
Oi!
Obrigada Pedro, esta viagem eu realizei em 2011, mas só agora resolvi escrever. Pretendo continuar postando algumas outras viagens realizadas pela America do Sul.
Acompanhe, que postarei outra viagem realizada em 2013.
Em 2012 fiz duas para Estados Unidos indo de avião, quem sabe mais para frente fale sobre estas viagens.
Obrigada e abraços
PARABÉNS
Ao ler percebi seu sofrimento e alegria.
Felicidades e sucesso nas próximas aventuras afinal ano está apenas começando.
Beijos
Oi Lorena! Obrigada pelas palavras! Sim,logo logo postarei outras viagens realizadas. Abração