–Quem disse que eu iria desistir?
Após o acidente em Maio, a vontade de realizar esta viagem só aumentou!
Em julho eu já tinha adquirido outra BMW R1200R, para realizarmos novamente a viagem para Machu Picchu. Esperamos o inverno passar e, enquanto isso, fizemos algumas viagens pelo interior de São Paulo e Minas Gerais.
Eu preferi fazer esta viagem antes de novembro, pois nesta época inicia-se a temporada de chuva, que vai até o mês de março. Como o meu plano era andar naEstrada da Morte, preferi ter a chance de pegar um tempo bom. Vale lembrar que minha moto não é uma trail e nem tem pneu adequado para pegar estrada ruim de terra.
Em Setembro, partimos novamente para realizar a viagem que infelizmente tinha sido interrompida. Saímos de SÃO PAULO para FOZ DE IGUAÇU, e de lá seguimos para a cidade de RESISTÊNCIA, na Argentina. Dormimos no Hotel Colon; – o estacionamento deste hotel é muito estreito e ruim para manobrar, e para sair tivemos que empurrar a moto de ré. Apesar deste detalhe, nos hospedamos mais duas vezes nesse estabelecimento em 2016.
Obs: Um policial tentou nos extorquir novamente em Corrientes, alegando a mesma desculpa da outra viagem que realizamos para sul de Chile e Argentina. Falamos que já tínhamos passado pela mesma situação um ano antes, e que desta vez fizemos tudo certinho. Ele nos liberou na maior cara de pau.
Após sair de Resistência, seguimos para Salta.
Salta
Esta cidade é maior que a vizinha San Salvador de JuJuy, mas igualmente bonita. O local tem a Igreja de San Francisco, que é muito linda. Mas, infelizmente, ela estava sendo restaurada e não pudemos visitá-la.
A cidade tem uma concessionária da BMW, e antes da viagem já tínhamos programado ficar um dia a mais no local para fazer a revisão da GS 1200 do Oscar e trocar o óleo da minha moto. Aproveitamos para fazer turismo pela cidade e explorar a gastronomia local.
Chegou o dia de partir para Atacama, estava ansiosa pois iria passar pela mesma estrada que sofri acidente. Paramos novamente em Salinas Grandes, na Ruta 52, lá nós deitamos e rolamos no sal para remover a “zica”, rs. E abastecemos no posto de gasolina na beira da estrada em Susques, aquele hotel onde pernoitamos em Maio.
-Chegamos em San Pedro de Atacama!
San Pedro de Atacama
Em Atacama ficamos hospedados por três noites no mesmo hotel da outra viagem, o Hostal Corvatsch, com uma ótima localização.
Que lindo! O Atacama é um mistério, é magia, é bela e encantadora…
Durante o dia, o brilho do sol e a imensidão azul do céu contrastando com as paisagens e as cores em tom pastel parecem quadros de pintura. À noite, o céu estrelado é um espetáculo à parte: parece que dá para contar todas as estrelas, de tão limpo e transparente é o céu. Lá está o Alma, o maior telescópio do mundo, situado a aproximadamente cinco mil metros do nível do mar. Durante o dia é quente e de noite é frio – a temperatura pode variar até 50 graus durante o ano.
No dia seguinte, ficamos horas andando de moto no Parque Nacional de Flamingos e paramos em uma reserva linda – os flamingos pareciam dançar balé.
Também fomos conhecer as Lagunas Miscanti e Lagunas Meñique e, quando o sol baixou, passeamos pelas ruas – não podia faltar também um cafezinho no bar da praça da cidade.
Por ser uma cidade turística, o local tem muitos restaurantes bons com pratos elaborados e também populares e saborosos. É um encanto caminhar nas ruas de terra, entre as casas de adobe.
No dia seguinte, acordamos cedo para visitar o Geysers del Tatio, com altitude de 4.278, sendo que o Atacama fica à 2.436 metros. Saímos às 5h30 da pousada e, fui na garupa, e à medida que fomos subindo, no ponto mais alto da estrada, a temperatura chegou a – 16 graus (16 graus negativos!). Ainda estava escuro, e era uma estrada de chão batido cheia de curvas.
Por um momento tivemos que parar a moto no escuro, eu queria tirar a maquina de fotografia do bolso mas não consegui de tanto frio, com dores nas mãos e nos pés, sem falar também da dor de cabeça e falta de ar, até o pensamento ficou confuso. Foi muito sofrido, mas valeu pela aventura e história para contar. Nunca na minha vida passei tanto frio.
Dicas:
– Pela experiência pessoal, estas manoplas que aquecem não ajudam em nada quando a temperatura é muito baixa. Em caso de frio abaixo de zero, o que vale mesmo é uma boa luva de moto, de preferência impermeável, porque pode estar chovendo ou nevando.
– Quando o frio é muito intenso e está chovendo, uso uma luva segunda pele, outra de neve (existem algumas marcas de luvas sem forro que protegem do vento e do frio, é possível encontrá-las nas lojas de esporte) e uma luva de borracha por cima, o que tem ajudado muito nestas situações.
– Para Geysers del Tatio, melhor ir de carro porque é muito sofrido passar por tanto frio, e existem agências de turismo que fazem esse passeio
– A capa de chuva protege muito do vento gelado.
Quando retornamos à pousada descansamos para recarregar a energia, pois durante o dia estava muito quente. À tarde fomos ao vale da lua para ver o maravilhoso pôr do sol, e no dia seguinte partimos para Iquique.
Iquique
Muito bem conservada desde a saída no Atacama, a estrada para chegar em Iquique é muito gostosa, cheia de curvas e lindas paisagens. A cidade litorânea de Iquique é um charme, rodeada pelo deserto de um lado e de outro, as boas praias.
Resolvemos ficar em Iquique duas noites. A cidade oferece vários lugares para visitar, fomos ao centro histórico da cidade, aproveitamos para levar as roupas na lavanderia, fizemos compras na maior Zona Franca da América do Sul e, o principal, aproveitamos bem a gastronomia regional. Estávamos ansiosos para conhecer esta cidade.
Como já contei em outro post, o Chile é o paraíso daqueles que gostam de frutos do mar. Os pratos chilenos misturam influências nativas e europeias. Além dos mariscos, ostras, vieiras; pirorocos, piures e locos que não existem no Brasil, tem em abundância as ovas de ouriço que é extremamente apreciadas nos restaurantes japoneses em qualquer canto do mundo. Fomos ao mercado local para conhecer as iguarias consumidas nesta região.
Putre
Foi mais um dia nas estradas maravilhosas do Chile, cheias de curvas, sem buracos ou irregularidades e as paisagens continuavam áridas. De vez em quando, no meio do deserto, do nada surgia uma vista que parecia um oásis.
Seguimos em direção à Arica, mas ainda não tínhamos definido se ficaríamos lá ou continuaríamos a viagem. Como ainda era cedo, continuamos pela Ruta 11, pernoitamos na minúscula e simpática cidade de Putre, a 66 km da fronteira com a Bolivia e ficamos em uma ótima pousada, os donos eram um casal de italianos muito simpáticos, e a pousada era impecavelmente bem cuidada.
Obs:
Nestas viagens de moto gosto muito de ficar em pequenos vilarejos, no qual nunca ouvimos falar e jamais imaginamos conhecer.
Partimos para La Paz no dia seguinte e passamos pelo Parque Nacional Lauca. Avistamos de longe os lagos e os vulcões gêmeos Parinacota e Pomerape.
La Paz
Para entrar na Bolivia é um pouco mais complicado e trabalhoso, perdemos mais tempo para realizar o trâmite, pois chegando à fronteira Tambo Quemado, tivemos que preencher os formulários de “Permiso” da migração boliviana e a autorização para conduzir motocicleta neste país. Esses processos são feitos em lugares separados, embora próximos. Andamos de um canto para outro, pedindo informação de como proceder, e com isso perdemos aproximadamente três horas.
A estrada até La Paz não era tão bem cuidada quanto à do Chile, apresentando pequenas falhas e irregularidades. Se eu soubesse como era transitar na cidade de La Paz, não teria passado por lá, mas como queríamos ir na Estrada da Morte resolvemos ficar na cidade. As ruas eram interrompidas por barracas de legumes, roupas e produtos eletrônicos, e o GPS insistia em nos levar para essas ruas intransitáveis. As vans ocupavam todas as faixas sem dar espaço no corredor para as motos, ficamos parados por horas neste transito caótico da cidade, e os pedestres nem olhavam para atravessar. Teve um momento em que o Oscar derrubou a BMW sobre sacos de tomate, só ouvi a boliviana gritando “que va a pagar mis tomates”, rs.
Neste dia não tínhamos reservado hotel, ficamos rodando pelas ruas procurando, mas quando percebemos o transito complicado resolvemos parar numa rua que parecia a 25 de Março de São Paulo, ou algo como a Ciudad del Este no Paraguai. Encontramos uma lan house no meio das lojas e reservamos um hotel fora do centro.
Depois de muito sobe e desce, sobe e desce e horas no trânsito conseguimos chegar no hotel e agradeci por chegar ao local.
Obs:
-A dificuldade de abastecer na Bolivia já é conhecida entre os motociclistas. Já li muito sobre este assunto, e fazem disso um problema. Mas, acho que não é tão exagerado como muitos dizem. Paramos em alguns postos que não vendem gasolina para estrangeiros, mas lá eles nos conduziam para outros postos que vendiam.
No dia seguinte acordamos cedo para conhecer a Estrada da Morte (outro post), conhecida como a mais perigosa do mundo!
Lago Titicaca
Daria para escrever um livro contando o idílio que foi sair de La Paz no dia seguinte. Ficamos de três a quatro horas rodando pela cidade para pegar a Ruta 2, e o GPS nos levava para ruas interditadas; nós íamos e voltávamos para o mesmo lugar, aconteceu isso várias vezes. Quando tentávamos desviar de uma rua interditada para não repetir o mesmo erro, mais para frente tinha outra. E assim foi a manhã inteira. A explicação de tudo isso era que no dia seguinte seriam realizadas eleições presidenciais, e a rua estava cheia de manifestantes fazendo passeatas, campanha eleitoral e distribuindo panfletos.
Só conseguimos sair do tumulto quando um jovem de carro, com toda a boa intenção, nos conduziu até a saída da cidade.
O Lago Titicaca está situado a 3800 m acima do mar e é imenso, tivemos a noção da grandiosidade andando horas ao lado do lago. Passamos pelo estreito de Tiquina, que é a passagem que liga as partes maior e menor do Lago Titicaca. Pegamos uma balsa rudimentar de madeira para atravessar. A fronteira entre a Bolivia e o Peru está localizada perto do centro da cidade de Copacabana que é o vilarejo pequeno mas muito encantador e atrai turistas do mundo todo. Para sair da Bolívia o trâmite foi mais fácil, já que para entrar no Peru não é tão complicado. Demoramos aproximadamente uma hora nesta fronteira.
Escolhemos Juliaca para pernoitar, uma cidade feia com trânsito absurdo, entretanto decidimos ficar duas noites nesta cidade porque eu queria realizar passeios pela região. Pensamos em conhecer as Ilhas Flutuantes feitas de junco em que habitam os Uros, a população indígena da região; mas resolvemos mudar de plano porque meu companheiro não quis passear no dia seguinte, depois de enfrentar o transito horrível.
Eu tive a sorte de conhecer um funcionário do hotel, o Isaía, que me convidou para visitar a ilha Amantani (outro post)no Lago Titicaca, que fica do lado Peruano, onde nasceu e desta forma não fiquei presa no hotel, porque o dia seguinte seria domingo e em Peru também teria eleição para presidente.
Cusco – Machu Picchu
No dia após visitar a ilha Amantani, pegamos novamente a estrada em direção a tão sonhada Cusco – Machu Picchu. e tivemos mais um dia difícil para sair da cidade: muito transito, triciclos que vão entrando em qualquer espaço, as vans que param em qualquer lugar, GPS que não acerta, ruas em obras com buracos, lama e ainda por cima tinha feira para atrapalhar.
Na estrada, durante o trajeto, cruzamos com uma grande quantidade de motociclistas, que até então não tínhamos encontrado. As estradas do Peru são tão boas quanto às chilenas, e a paisagem era composta de vales e montanhas ao longo do trajeto.
Chegamos em Cusco e procuramos um hotel na região badalada da cidade, para facilitar os passeios que iríamos realizar . No dia seguinte, partimos de trem para Águas Calientes. Acordamos bem cedo e o hotel começou a servir café da manhã as 5:30, deixamos as motos no hotel e fomos de táxi até a estação de trem, Estacion Poroy.
Neste mesmo dia fomos à Machu Picchu, com toda a sua nobreza, grandiosidade e imponência. Que energia boa! É um lugar tão impressionante que está em meus planos fazer novamente este passeio. Dormimos em Aguas Calientes para conhecer este pequeno povoado que cresceu as margens do rio Urubamba, bem ao pé da montanha sagrada.
Retornamos a tarde para Cusco, onde ficamos mais um dia, experimentando a famosa gastronomia peruana, a culinária local andina e também passeando pelo centro histórico cidade e região.
Puerto Maldonado
De Cusco para Puerto Maldonado pegamos a famosa RODOVIA INTEROCEÂNICA, também conhecida como Estrada do Pacifico, que liga o noroeste do Brasil ao litoral sul do Peru.
Foi o trajeto que mais demoramos para fazer – sete a oito horas para andarmos aproximadamente 500 km. A estrada é maravilhosa, sinuosa e muito gostosa, mas tinha alguns pontos de perigo nas montanhas porque escorria água no meio da pista e tinha muitos pontos de PARE- SIGA. Além disso, pegamos chuva ao longo do trecho.
A cidade de Puerto Maldonado é a Amazônia Peruana, conhecida pelo ecoturismo. Chegamos na cidade e descansamos no quarto refrescante do hotel, com ar-condicionado, porque o calor estava muito intenso – pegamos uma variação de temperatura de 5 a 35 graus ao longo da estrada. Eu, particularmente, gostaria de ter ficado um dia nesta cidade para fazer o passeio de barco no Lago Sandoval, mas o Oscar preferiu seguir a viagem no dia seguinte, por causa do calor intenso da região. Apesar de ser uma cidade pequena, tem restaurante bom e fiquei surpresa em ver muitos turistas europeus.
No dia seguinte, seguimos rumo ao Brasil. À medida que íamos nos aproximando da divisa com o país o calor foi aumentando, e a viagem ficou muito cansativa. Paramos pelo menos duas vezes nos bares dos vilarejos situados ao longo da estrada para nos refrescar e hidratar. Finalmente, chegamos à fronteira.
Passando a fronteira, do lado do Brasil, a Rodovia Interoceânica é mal cuidada, com asfalto rachado, buracos e irregularidades.
Brasileia
Não íamos parar nesta cidade, mas para que seguir adiante se o corpo está pedindo sombra e água fresca? Que diferença faria um dia a mais ou um dia a menos? Então, resolvemos ficar no local.
Encontramos um hotel, tomamos um belo banho gelado para refrescar, ficamos no quarto com o ar-condicionado ligado e só saímos quando o sol estava menos ardido. Fomos para Cobija, cidade encostada que fica na Bolívia. Pegamos um táxi, nem lembro se apresentamos documentos para passar pela fronteira de tão simples que foi, e aproveitamos para fazer algumas compras.
E não podia faltar comida brasileira no jantar.
Rio Branco
Finalmente chegamos em Rio Branco, no Acre. A estrada continuou muito ruim, mas chegamos cedo, a distância era pouca. Neste mesmo dia, tivemos tempo para conhecer a cidade. Compramos a passagem de avião para São Paulo e, no dia seguinte, antes de embarcar, deixamos as motos no endereço combinado para trazerem as motocicletas de volta em um caminhão cegonha.
Obs:
– Antes de iniciar a viagem, já tínhamos contratado a transportadora, com pagamento adiantado. Mas, chegando no local da entrega da moto, em Rio Branco, o rapaz responsável disse que a contratação também poderia ser realizada por lá mesmo, na hora.
– A entrega da moto foi feita em São Bernardo do Campo, cidade vizinha à São Paulo.
– Conheço duas transportadoras que realizam esse serviço, a Transroyal e a Transmartins.
E assim foi mais uma viagem – e sonho – realizada sobre duas rodas. Até a próxima aventura!