“Vamos para Ushuaia no final de ano? Fugir deste calor?”, Oscar falou no início de dezembro.
“Mas acabamos de voltar de uma viagemde Machu Picchu em outubro!”, respondi.
CLARO QUE NÃO RECUSEI!
Agora iremos para a cidade do fim do mundo, Tierra del Fuego!
- Obs: Atualmente a cidade de Puerto Williams,Chile, foi considerada a cidade mais meridional do mundo.
Corremos para fazer a revisão da minha moto. E a GS 1200 do Oscar, nós programamos para fazer em Neuquén (na Argentina), na ida, cidade que estaria no caminho da viagem.
Em menos de um mês, eu planejei o trajeto, nós trocamos os pneus das duas motos, fizemos as manutenções necessárias, e providenciamos documentos e seguros.
OBA! CHEGOU O DIA DE VIAJAR, NOVAMENTE ESTRADA!
Saímos de São Paulo no dia 30 de dezembro, rumo ao fim do mundo, Ushuaia. A intenção era sair antes, mas tivemos um contratempo para resolver um problema por aqui. Antes do Natal, Oscar deixou cair um documento na água e alguns números ficaram borrados: achamos melhor fazer outro por precaução e só ficou pronto no dia 30 de manhã. Neste mesmo dia saímos depois das 13h e dormimos em União da Vitória, Paraná.
Passamos a virada do ano em São Borja, Rio Grande do Sul. Felizes e comemorando o início de mais uma viagem de moto. Escolhemos a fronteira de São Borja por ser mais tranquila e bem mais rápida.
No dia 1º de janeiro atravessamos a fronteira e chegamos a Rosário em Argentina. O calor nesta época do ano é muito intenso, fizemos 4 paradas durante o trajeto. Aproveitávamos para nos refrescar na loja de conveniência e por causa do suor, eu deixava a jaqueta arejando, mas sempre com um de nós por perto. No último posto de abastecimento provavelmente distraímos e alguém muito esperto e já de olho, pegou TODOS os meus documentos (da moto, habilitação e passaporte), celular e cartões de crédito, todos separados em vários compartimentos da jaqueta, fechados com zíper e velcro.
SÓ PERCEBI QUANDO CHEGAMOS EM ROSÁRIO. QUE DESESPERO!
No dia seguinte, fomos à delegacia da cidade, fizemos o boletim de ocorrência e lá fomos orientados a fazer uma carta no consulado brasileiro para podermos sair do país.
Tínhamos 2 escolhas:
- Voltar rodando de moto e aí perderíamos dias e o ânimo de começar tudo de novo;
- Deixar as motos em Rosário, voltar para São Paulo de avião e, depois de prontos os documentos, retornar e continuar a tão sonhada viagem.
ESCOLHEMOS DEIXAR AS MOTOS EM ROSÁRIO!
Conseguimos uma carta de permissão para passar sem os documentos no aeroporto da cidade e, juntamente com o boletim de ocorrência. Apesar da falta de sorte até então, dia 2 de janeiro era uma sexta-feira e eles NÃO emendaram o feriado de ano novo. A assistente fez de tudo, para agendar um horário com o cônsul, preparou a carta e ele provavelmente foi lá só para assinar… Mais um motivo para eu gostar mais ainda da Argentina.
Na segunda-feira já em São Paulo, comecei providenciar todos os documentos perdidos e, como minha vida não é só viajar, aproveitei e organizei a agenda para trabalhar.
CHEGOU O DIA DE CONTINUARMOS A VIAGEM!
No dia 06 de fevereiro, depois de ter providenciado os documentos, retornamos a cidade de Rosário de avião e, já no dia seguinte partimos para General Acha, Argentina. Na entrada da cidade tinha um hotel com boa aparência, ficamos com este mesmo e não passeamos pela cidade por causa do calor e, para jantar, fomos a pé a um restaurante de parrilla que ficava quase em frente ao hotel.
EmNeuquen ficamos um dia a mais para fazer a revisão da BMW GS 1200. Fizemos um tour motociclístico com a R1200R pela cidade e fomos ao mercado comprar os galões de gasolina. Estava no plano comprar 2 galões para levar, um para cada motocicleta, porque é muito comum faltar combustível em postos ao longo da Ruta 40, principalmente nesta época do ano de verão e férias, a quantidade de turista viajando de carro e de moto aumenta muito.
Na concessionária da BMW conhecemos um motociclista que mora próximo à cidade de Comodoro Rivadavia, na Patagônia Atlântica, que também estava realizando a revisão de sua moto. Jantamos com ele e combinamos de seguirmos juntos no dia seguinte para Junín de Los Andes, pela Ruta 237 e a tão sonhada Ruta 40.
Em Junín de Los Andes,o nosso novo amigo seguiu sozinho para sua cidade. Combinamos que na volta passaríamos por lá, porque iríamos voltar pela Ruta 3.
Para conhecer bem esta região, ficamos uma noite em Junín de Los Andes e mais uma noite em San Martin de Los Andes, apesar de serem cidades bem próximas uma da outra, apenas 41 km, nós queríamos conhecer restaurantes diferentes das duas cidades. Fizemos tour pela região, passeamos de moto, conhecemos os lagos, e a gastronomia local.
A Ruta de Los Siete Lagos, é a Ruta 40 entre a San Martin de los Andes e termina em charmosa Villa La Angostura, é uma estrada lindíssima e cheia de curvas, com lagos ao longo da estrada, que apesar do nome na verdade passa por 11 lagos.
Nesta viagem, as cidades de Villa La Angostura e San Carlos de Bariloche foram somente de passagem, uma para comprar o peso argentino e outra para abastecer. Porque já tínhamos conhecido toda a região na outra viagem, quando fui de Fat Boy.
Resolvemos dormir em Esquele, no caminho, passamos pela cidade de El Bolsón, onde vimos uma empanadaria e decidimos parar para comer.
Durante a viagem de moto, raramente almoçamos, porque além de dar uma moleza no corpo e sono, perde-se muito tempo na estrada. Comemos apenas coisas leves, lanches, água ou algum outro líquido, cafezinho que não pode faltar. Eu adoro empanadas, e fico sempre de olho quando passamos pelas cidades ou mesmo nas estradas onde vendem esses salgados típicos da Argentina e recomendo para quem gosta, quando avistar uma empanadaria vale a pena parar, porque geralmente são deliciosas.
De Esquel partimos para Perito Moreno, onde pernoitamos. Aí, sim, começou a grande aventura sobre o rípio (estrada de cascalho e de pedregulho) na famosa estrada; pegamos uns 20 km de desvio com pedras enormes soltas por causa de uma obra, antes da cidade de Rio Mayo. Este trecho de rípio foi muito tenso, que pareciam intermináveis quilômetros. Vale lembrar que esta viagem foi em 2015.
Saindo de Perito Moreno no dia seguinte rumo a El Calafate, passamos pela vila de Bajo Caracoles, onde a parada para o abastecimento de gasolina é obrigatória e, é muito comum faltar gasolina neste posto de gasolina, principalmente nesta época do ano, que tem grande número de veículos circulando pelas estradas da patagônia, outra parada obrigatória para abastecimento foi na cidade de Gobernador Gregores e depois no posto que fica na estrada logo passando a cidade de Tres Lagos.
Neste dia, foram mais de 70 km de rípio entre as cidades de Gobernador Gregores e Tres Lagos. O piso de terra batido da estrada não estava tão ruim, com pouquíssimas pedras soltas e não enfrentamos o temido vento patagônico.
-Foi muita sorte!
Obs:
- Em janeiro de 2018, o rípio da Ruta 40 estava em péssima condições com muitas pedras enormes e redondas soltas, farei um texto sobre esta viagem.
- Usamos a gasolina reserva do galão entre o trecho da cidade de Esquel e Río Mayo (este trecho tem vários postos, principalmente dentro das cidades que passamos, mas como nós não paramos, acabou durante o trajeto), depois entre Tres Lagos e El Calafate (já quase chegando em El Calafate);
- Em 2018 fizemos este ultimo trecho no sentido inverso e deu para fazer sem encher o tanque andando a velocidade mais baixa.
Chegamos a El Calafate!
El Calafate é muito procurada por turistas de todos os cantos do mundo por sua beleza e por estar localizada a cerca de 80 km do Glaciar Perito Moreno no Parque Nacional Los Glaciares, a maior geleira na extensão horizontal do mundo. A cidade é pequena mas oferece uma boa estrutura hoteleira e, por isso, não tivemos problema em encontrar hotel com ótima localização logo quando chegamos. Tem um centrinho muito gostoso com uma grande concentração de turistas e é onde ficam bons hotéis e restaurantes. Tem também ótimos restaurantes muito bem conceituadas espalhadas pela cidade, e alguns com a vista panorâmica do lago Argentino. É interessante experimentar uma bebida feita com a fruta calafate, que tem sua origem na Patagônia, muito comum nesta região e que deu o nome à cidade e, também com esta fruta fazem batidas, doces, licores, sucos e geleias.
Vale a pena passear de moto pela cidade ao lado do enorme e muito lindo lago Argentino, resultado da água de degelo glacial.
No dia do passeio do Glaciar Perito Moreno conhecemos um alemão, com um scooter Vespa vindo da Europa e de Alasca desceu para a América Central, atravessou a América do Sul de Norte ao Sul, inclusive passou pelo Brasil. Foi para Ushuaia e estava subindo pela Ruta 40 para conhecer toda a Patagônia Argentina e Chilena. Estava há um ano e meio pelas estradas.
-Fiquei encantada com a viagem dele!
Seguindo a viagem, enfrentamos uma enorme fila no posto de abastecimento na cidade de Esperanza, Argentina, a 163 km de El Calafate.
- Neste trecho rodamos alguns quilômetros a mais de estrada pavimentada até a cidade de Esperanza (onde abastecemos) e depois pegamos a Ruta 7 ao sentido do Puerto Natales, evitando assim um trecho de ripio muito ruim da Ruta 40 entre El Cerrito e Estância Tapi Aike.
E a parada seguinte foi em Puerto Natales. A ideia inicial era dormir no Parque Nacional Torres del Paine ou apenas conhecer de passagem, pegamos a estrada que leva ao parque e chegamos a rodar aproximadamente 30 km no ripio, mas desistimos, como já era tarde e ainda tinha alguns quilômetros de ripio e, não sabíamos se teria hospedagem disponível ou não, decidimos deixar para o próximo dia. Mas Oscar não quis fazer este passeio no dia seguinte, alegando que teríamos outras viagens e oportunidades para conhecer o local. Tudo bem, não discordei, porque teremos um motivo para realizar outras viagens de moto para esta região.
- E não estava errada, porque em janeiro de 2018 conheci o Parque Nacional Torres del Paine em uma outra viagem de moto. E a estrada para chegar ao parque estava asfaltada.
De Puerto Natales a Punta Arenas, o trajeto é curto e ainda tivemos tempo para passear pela cidade e pela primeira vez enfrentamos o vento patagônico que felizmente não estava tão forte.
No dia seguinte, pegamos o ferry para atravessar o Estreito de Magalhães de Punta Arena a Porvenir.
Passando pela cidade de Porvenir foi ótimo ter escolhido a estrada menos movimentada, pois a estrada principal estava com tráfego de vans e carros que também desembarcaram do ferry, levantando poeira e apresentando perigo maior.
Minha inexperiência em andar na terra e no rípio não era segredo; -tinha andado somente na Estrada da Morte, na Bolívia, San Pedro de Atacama e realizado algumas viagens na estrada de terra em Minas Gerais e São Paulo. Apesar de minha moto não ser uma trail, eu andei em pé como se fosse uma e, à medida que fui pegando o jeito, minha confiança aumentava para arriscar uma velocidade maior, tornando muito prazeroso e divertido andar sobre as pedras soltas. Fomos orientados a diminuir a calibragem dos pneus para facilitar a condução sobre as pedras.
A Ilha Grande de Ushuaia está repartida entre Chile e Argentina. O trâmite foi um pouco demorado, porque havia uma quantidade muito grande de turistas. Apesar de ter rodado aproximadamente 7.000 km até o momento, o pneu da moto do Oscar estava todo acabado e ele preferiu ficar um dia na cidade de Rio Grande,para trocar o pneu traseiro da GS 1200. Na cidade conhecemos um francês que também atravessou o oceano de moto.
No caminho de Río Grande a Ushuaia, tem uma cidade chamada Tolhuin que tem a panadería (“padaria”) La Unión, indicada por vários motociclistas que encontramos pela estrada e foi onde comemos a melhor medialuna do país, segundo os próprios argentinos.
– Valeu a pena conhecer!
Finalmente USHUAIA!
Em Ushuaia, fizemos um passeio inesquecível, navegamos pelas águas geladas do canal do Beagle apreciando as gaivotas, albatrozes, pinguins e leões-marinhos, e desfrutamos de um por do sol maravilhoso durante a navegação. Embarcamos no porto turístico da cidade, onde saímos da bahia de Ushuaia, em direção ao canal do Beagle que é dividido pelo Chile e Argentina por uma linha imaginária.
Andamos de Trem do Fim do Mundo, um trem que no passado transportava os presos até os bosques para cortarem lenha, onde atualmente está o Parque Nacional Tierra del Fuego. E não podia faltar a fotografia na famosa placa que indica o fim da Ruta Nacional 3.
Aproveitamos o máximo da gastronomia local, na nossa viagem de moto. Nós degustamos as centollas (ou “king crabs”, caranguejos gigantes que são o prato típico de Ushuaia) todos os dias e, também experimentamos a merluza negra, proveniente das águas profundas e geladas desta região, que é um produto nobre apreciado pela alta gastronomia por ser um pescado muitíssimo saboroso.
Voltando de Ushuaia no sentido Punta Delgada, andar no rípio foi muito tranquilo. Um motociclista nos orientou para pegarmos as estradas paralelas apesar de ficar mais longa, porque a principal estava em obra; evitamos as pedras enormes soltas jogadas exageradamente ao longo da estrada. Vimos pelo menos duas motos com pneus furados ao longo do trajeto.
Fizemos a travessia de ferry na Cruce Bahia Azul, em Punta Delgada, e pernoitamos em Rio Gallegos.
- Em 2015, tinha aproximadamente 170 km de rípio na estrada principal da ilha.
- Em 2019, tinha apenas de 10 km de rípio entre as duas aduanas Chilena e Argentina.
- Talvez em 2020 a estrada já esteja concluída e toda asfaltada.
Do Río Gallegos a Comodoro Rivadávia, pegamos finalmente os temidos e fortíssimos ventos a ponto de ver um ônibus acabado de tombar e os passageiros sendo resgatados. Nem ousamos parar para fotografar o acontecido. Se parássemos, o vento nos derrubaria. Foi muito cansativo rodar quilômetros e quilômetros de distância com este vento. As cidades ficam distantes uma das outras com pouca estrutura entre elas. Quando paramos no posto de gasolina para abastecer, ficamos sabendo de quedas de motociclistas. Pensamos em passar uma noite próximo a este posto, mas resolvemos seguir.
Ficamos uns dias na cidade do novo amigo argentino que conhecemos em Neuquen; e lá passeamos, visitamos os pontos turísticos da região e reunimos também para um delicioso jantar feito por ele. E partimos todos juntos para Bahia Blancaonde dormimos no hotel a beira da estrada e por fim chegamos Buenos Aires.
Oba! De volta à Buenos Aires!
Quem leu meu post anterior, sabe muito bem que gostamos muito da capital argentina. Repetimos os mesmos passeios, as mesmas caminhadas pelo Puerto Madero e lojinhas de San Telmo, compras nas Galerías Pacífico, a visita em livraria que Oscar adora e ficamos alguns dias curtindo esta cidade. Mais uma vez fizemos turismo gastronômico com novos amigos e teve uma noite que encontrei uma amiga do Brasil que estava visitando a cidade.
De Buenos Aires a São Paulo, fizemos 3 paradas. Uma em Concordia, na Argentina (entramos no Brasil pela cidade de São Borja), outra em Erechim(RS) e, por último, Lapa(PR).
Quando achamos que seria moleza, encontramos mais um motivo para dificuldade: pegamos chuva de Buenos Aires até chegarmos a Lapa. E quando pensávamos em tirar a capa de chuva, novamente começava a chover. Só no último dia, a chuva nos deu trégua. Estes últimos trechos foram muitos cansativos por ser o final de uma longa viagem.
Para deixar a viagem mais “emocionante”, depois de Erechim, meu companheiro e eu acabamos nos separando e foi cada um por si. Não daria para ficar esperando ou andando em velocidade muito baixa que chegaria a ser perigoso com chuva e grande movimento de caminhões e carros nestas estradas do Sul do Brasil. Já quase escurecendo, acabamos nos encontrando coincidentemente no mesmo hotel em Lapa, e fomos dormir. Nem tivemos ânimo para procurar um restaurante pela cidade, comemos lanches próximo ao hotel. No dia seguinte, chegamos a São Paulo e finalmente em casa!
Este tal do Fim do Mundo realmente é muito longe… Até a próxima viagem!
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