Você terá alguns dias livres e está “doidinho” para pegar a moto e “se mandar”?
Uma boa dica de viagem em moto é San Pedro de Atacama no Chile, o vilarejo que fica no meio do deserto mais seco do mundo, ao norte do Chile e, é o queridinho de muitos motociclistas, famoso por suas belezas naturais e o lugar é simplesmente incrível com paisagens espetaculares.
Saindo de São Paulo, em quanto tempo daria para realizar esta viagem?
Para não se tornar uma viagem muito cansativa e para aproveitar pelo menos 2 a 3 dias de passeio pela cidade, aconselho realizar no mínimo em 12 ou 13 dias contando a ida e volta. Apesar que para quem gosta de pilotar muito por dia, daria para realizar em 10 dias, isto vai depender de quantas vezes você irá parar para dormir, quantos dias ficará em Atacama para realizar os passeios e qual o roteiro irá escolher. Para quem tiver mais tempo, vale a pena fazer esta viagem em 15 dias para aproveitar e visitar os lugares interessantes pelo caminho que vale a pena conhecer de passagem como a região de Humahuaca, Tilcara e Purmamarca.
Se gosta de off road pode atravessar a fronteira pelo Paso Sico passando pela San Antônio de los Cobres. O preferido da maioria por ter estrada totalmente asfaltada, é o Paso de Jama, pela RN 52 que pelo caminho passa pelos vilarejos Purmamarca e Susques, além de ter a Salina Grandes e o mirante da estrada como lugares legais para parar e tirar fotos.
Se quiser rodar mais quilometragens, poderá também seguir pelo Paso de San Francisco (ou na volta), que é asfaltada apenas do lado Argentino, interliga a cidade de Fiambalá, AR à Copiapó, CL , depois subir em direção da Antofogasta, e aproveitar para tirar a foto na escultura “Mano del Desierto”.
Pode também escolher a ida ou a volta pela Bolívia, passando pelo Salar de Uyuni.
Foi o que fiz no Carnaval
No carnaval de 2016, decidimos ir novamente a San Pedro de Atacama para matar a saudade e a intenção era relembrar os lugares maravilhosos pelos quais passamos em outra viagem. É muito engraçado, porque eu e meu companheiro saímos de São Paulo pensando nos restaurantes e nas comidas das cidades que íamos pernoitar.
Desta vez, na ida, não entramos por Foz do Iguaçu, e sim por Dionísio Cerqueira. Esta fronteira é famosa por ter três cidades, dois estados brasileiros e dois países em uma só comunidade. Seria o triângulo Barracão/PR, Dionísio Cerqueira/SC e Bernardo de Irigoyen que é uma cidade da Argentina.
A diferença entre um e outro é que em Foz do Iguaçu perdemos mais tempo por ser uma cidade maior e de grande movimentação de turistas e enfrentamos fila de carros. A cidade de Dionísio Cerqueira é pequena, foi fácil de achar um hotel bom e barato, além de ter sido muito rápido para atravessar a fronteira e a distância saindo de São Paulo, é um pouco mais curto.
Na Argentina, a primeira parada para pernoitar foi em Resistência, lá ficamos no hotel Colon (obs: o estacionamento é estreito e ruim) e fomos comer no mesmo restaurante da outra viagem. Uma outra opção seria pernoitar em Corrientes, que é a cidade vizinha e mais bonita, com opções de ótimos de hotéis e de restaurantes e um por do sol bonito na costaneira do Rio Paraná.
Por ter estado muito quente, resolvemos fazer uma parada extra, não programada e dormimos na cidade de Pampa do Inferno, que é inferno mesmo de tão quente que é. Neste dia, saímos quase 12:00 h da Resistência e durante o trajeto chegou a marcar 42ºC no termômetro da moto.
No dia seguinte, pegamos uma estrada muito ruim e esburacada por uns 50 km entre a cidade de Monte Quemado e Taco Pozo, e dormimos em San Salvador de Jujuy, na Argentina, e lá descobrimos uma parrilla maravilhosa, o restaurante La Mansion Parrilla Trattora.
Obs: Para desviar desta estrada esburacada, tem a opção de pegar a Ruta 89 após a cidade de Presidencia Roque Saénz Peña no sentido do Santiago Del Estero e depois seguir para Salta ou San Salvador de Jujuy.
Já seguindo para Paso de Jama, na Ruta 52, paramos no mirante da estrada, na placa do ponto mais alto, e também nas Salinas Grandes para tirar fotos e desta vez tinha uma nativa preparando empanada no forno à lenha. Já comi muita empanada durante as viagens de moto pela Argentina, mas esta estava deliciosa.
O ponto de abastecimento foi no posto próximo ao Paso de Jama. Assim sendo, não paramos no posto do hotel na beira da estrada em Susques, onde abastecemos na outra viagem.
Finalmente chegamos em San Pedro de Atacama no quinto dia.
A melhor época para ir ao deserto de Atacama é Outono e Primavera por apresentar temperaturas mais amenas durante o dia e não tão frias durante a noite, e com preços mais acessíveis por ser baixa temporada. E para quem for no verão, a amplitude térmica é muito acentuada e você terá temperaturas altas durante o dia e baixas durante a noite e prepare-se com temperaturas negativas nos locais mais elevados, mesmo nesta época do ano.
Ficamos três noites e hospedamos no mesmo hotel das outras viagens, o Hotel Corvatsch, geralmente lotado de motociclistas. É um hotel muito bom, e com uma ótima localização. E eles organizam os próprios passeios em vans.
O que fazer no Deserto do Atacama?
- Você não pode deixar de caminhar pelas ruas estreitas de terra, entre as casas com o tijolo à mostra. A rua Caracoles é a principal rua do vilarejo, onde tem mais movimento de turistas, há variedades de restaurantes e agencias de turismo que organizam passeios para visitar os arredores. Também não pode faltar um cafezinho na praça da cidade e ficar horas sentado observando que às vezes há apresentação de cantores autônomos, e é comum encontrar alguns motociclistas para papear. Outros pontos para se conhecer são a Igreja de San Pedro, símbolo da arquitetura local, e o museu arqueológico Gustavo Le Paige, onde é possível conhecer melhor sobre a geografia, história e povoamento da vila;
- À noite, o céu estrelado é um espetáculo à parte, existe inclusive um passeio noturno com guias especializados em astronomia para contemplar o céu do Atacama, considerado um dos mais lindos do planeta. Na região está o ALMA (Atacama Large Millimeter Array), o maior telescópio do mundo, situado a aproximadamente cinco mil metros do nível do mar;
- Visitar o Parque Nacional dos Flamingos, ver os flamingos mostrando a sua graça pela Laguna de Chaxa;
- Passar pela Laguna Cejar que tem 40% de sal e faz com que fique mais fácil boiar sem afundar, como o Mar Morto, no Oriente Médio. Se quiser entrar, você pode levar roupa de banho;
- Depois, você pode ir até o Salar do Atacama. Lá estão áreas cobertas de crostas de sal, formadas pelo acúmulo de cristais produzidos pela evaporação de águas subterrâneas;
- Um dos passeios que você não pode deixar de fazer é conhecer as Lagunas Altiplânicas – Miscanti e Miñique. É um lugar para contemplar e meditar. Parece um quadro de pintura de tão lindo, com águas azuis e calmas, e a paisagem composta por vulcões causa um suspiro em cada olhar;
- Conhecer o Vale da Lua, onde você poderá caminhar pelo cânion, com dunas e paredões enormes esculpidos pelo vento, e formações de sal muito interessantes, onde está a Cânion e Cuervas de sal e a escultura natural Três Marias ou “Os Penitentes”, como chamam os nativos. Está localizado na Cordilheira do Sal, a 13 km de San Pedro, normalmente é um tour combinado com o Vale da Morte que também tem a formação geológica de dunas e cânions e lembra um pouco o Vale da Lua, porem o tom é um pouco mais avermelhado. Piedras Rojas é um local formado por pedras de diversos tamanhos na cor avermelhada que vem da oxidação de ferro nas rochas. Ao lado, uma lagoa reflete toda essa bela paisagem;
- Visitar os Geysers del Tatio. É bom sair às 5 da manhã, porque o melhor horário para visitar o local é às 7h, os vapores estão mais fortes deixando mais lindo o espetáculo. A estrada de acesso de chão batido é cheia de curvas. Mas como faz muito frio na parte mais alta durante o trajeto, é melhor contratar uma van para realizar o passeio. Quando passei por lá na outra viagem, fomos de moto e durante o trajeto no ponto alto da estrada, ainda de madrugada, chegou a -16ºC. E vale a pena levar uma roupa de banho para divertir nas deliciosas águas termais, mas prepare para enfrentar o frio;
- Um lugar que você não pode deixar de ir são as deliciosas Termas de Puritama. Um riacho de águas termais que corre dentro de um canyon, formando oito piscinas com temperaturas que vão de 28º a 35ºC. Não esqueça de levar uma roupa de banho se o tempo estiver bom. É ótimo para relaxar e curtir a natureza ao redor;
- Visitar o Pukará de Quitor é um sítio arqueológico a cerca de 3 km de San Pedro de Atacama, construído no século XII para servir de fortaleza. Foi restaurado e hoje é considerado monumento nacional;
- E para fechar com chave de ouro, vale a pena ver o famoso por do sol no Mirador de Kari e tirar uma foto no mirante Piedra del Coyote da bela paisagem do vale;
- Você pode também fazer um bate-volta até Antofogasta e rodar 730 km no total. Vale a viagem para tirar fotos da Mano del Desierto, escultura de 11 metros projetada pelo artista chileno Mario Irarrázabal.
– E a volta foi assim
Retornamos até Salta com mais três motociclistas que conhecemos em Atacama e, à noite, jantamos no restaurante de parrilla La Monumental aonde costumamos ir quando ficamos nesta cidade. Depois, nos separamos e cada grupo seguiu o caminho da volta.
De Salta a Resistência, percebi que o pneu da minha moto estava no fim ( achei que dava para ir e voltar, e desta vez não tinha trocado o pneu antes da viagem). No dia seguinte passamos em Corrientes para comprar o pneu e ficamos o dia inteiro tentando resolver isso, mas achamos caríssimo o preço em Argentina. Decidimos, então, desviar o caminho e fomos para Assunção, Paraguai. E como já estávamos lá, realizei a revisão obrigatória da moto na concessionária da BMW, que tinha acabado de vencer, e achamos um pneu adequado para minha moto em uma loja de pneu comum.
No dia seguinte, depois de tudo pronto, partimos para Foz do Iguaçu. E, no décimo terceiro dia, chegamos a São Paulo.
– Então, animou?