Após nos aventurarmos pela Estrada da Mortena Bolívia, dormimos uma noite em La Paz e continuamos a nossa viagem de moto rumo a Machu Picchu; -atravessamos a fronteira da Bolívia com o Peru e resolvemos pernoitar na cidade de Juliaca, uma cidade sem atrativos turísticos, entretanto decidimos ficar duas noites nesta cidade porque queríamos realizar passeios pela região. Pensamos em conhecer a Ilha Flutuante no dia seguinte, mas resolvemos mudar de plano porque o Oscar não quis sair do hotel depois de enfrentar o transito horrível desta cidade.
Eu tive a sorte de conhecer um funcionário do hotel, o Isaia, que me convidou para conhecer a ilha onde nasceu (pelo menos não fiquei presa no hotel), porque o dia seguinte seria domingo e lá em Peru teria eleição para o presidente.
Isaía trabalhava no hotel Royal Inn, e é nativo da ilha Amantani, situado no lago Titicaca. A convite do Isaía, fui conhecer a ilha de Amantani, a maior ilha do lago, habitada por cerca de 4 mil habitantes. Possui energia elétrica fornecida por gerador; -que nem sempre funciona e além do mais não abastece todas as casas da ilha, e algumas poucas casas possuem energia solar. Alguns mais velhos do povoado falam somente um idioma indígena, o quíchua, que é um pouco diferente dos Los Uros que falam aymara, mas a maioria conversam também em espanhol.
Pegamos uma van às 6 horas da manhã, quando o céu estava clareando.
Como era um domingo e dia de eleição para presidente, as vans estavam totalmente lotadas conduzindo os nativos da ilha. Seguimos ao povoado de Capachica, localizado na península com o mesmo nome e, de lá pegamos uma outra condução que nos levaram em um pequeno porto improvisado no meio das pedras na beira do lago Titicaca, lugar que encontravam-se ancoradas várias embarcações igualmente lotadas.
-Entre os nativos, eu era a única estrangeira!
Fui recebida pela família do Isaía, que me acolheu com muita simpatia. A casa era simples, porém com dois ou três alojamentos, porque é muito comum os habitantes locais hospedarem turistas que querem ter a experiência única de passar com a família da ilha para viverem por um dia como eles vivem, e assim sendo, muitas famílias passaram a sustentar-se de turismo. Por consequência, atualmente a ilha sobrevive de turismo, além da colheita, criação de cuy (porquinho-da-índia), e alguns animais de pastagem.
O pai do Isaía me conduziu para um dos aposentos bem simples mas muito aconchegante, para descansar enquanto preparavam um lanche antes da caminhada.
Após o lanche, que tinha pão, manteiga, café solúvel e chá, fui visitar as ruínas com um guia “mirim”, o filho do Isaía. A ilha Amantani possui duas montanhas, a Pachatata (Pai Terra) e Pachamama (Mãe Terra) tal como eles denominam, com antigas ruínas Inca ao longo do morro e o templo no topo de ambos, e lá de cima o lago tem uma vista incrível e deu para ter a noção do tamanho, que é considerado o maior lago da América do sul em volume de água. Depois de cansativas caminhadas, subindo e descendo as montanhas, fomos ao centro do vilarejo que estava superlotado pela população local por causa da eleição. Retornamos para casa do Isaía e lá serviram um almoço típico da ilha. Tinha uma sopa feita com legumes e quinoa; serviram também um pão, variedades de batatas cozidas, ovo, cenoura e milho;- Uma curiosidade: contei pelo menos 4 tipos de batatas diferentes, todas colhidas na ilha e é reconhecido no meio gastronômico que em Peru existe mais de 1.000 tipos de variedades deste tubérculo.
Antes de partir ofereceram um chá muito comum na ilha e também em toda região do lago Titicaca, o chá de muña, uma planta altamente digestiva e, além de ser “energizante” possui várias outras propriedades.
Quando chegamos ao portinho para retornar, o barco estava lotado e era bem menor que o da ida; -estava tão cheio, que até fiquei com um frio na barriga. Não tinha muita escolha porque as outras embarcações já tinham todas partidas, pois o dia seguinte seria uma segunda feira e muitos estudavam ou trabalhavam em cidades maiores e também em outros vilarejos.
E assim foi mais um dia inesquecível de aventura, uma experiência incrível somando a beleza da ilha e contato com a cultura local, a simplicidade e simpatia dos habitantes locais; – Foi um dos dias mais intensos e enriquecedores da minha viagem de moto pelo Peru!