Key West é parte das Florida Keys, um arquipélago de quase 1.700 ilhas no sul da Flórida. Nem todas são habitadas, mas as principais são ligadas pela Overseas Highway, uma estrada de 205,2 km, com 42 pontes.
A ‘Estrada sobre o mar’ foi construída em 1.938, depois que, em 1.935, um furacão destruiu a ferrovia que levava até Key West. Trechos dessa estrada de ferro, a Overseas Railroad, ainda estão lá, parte da história e formando uma paisagem deslumbrante. Outros tiveram as pontes cobertas por asfalto e alargadas, tornando-se parte da Overseas Highway.
Já havia feito essa viagem de carro, em um bate-volta em 2012 e já fiz viagens que exigem muito do motociclista, como a Carretera Austral, Estrada da Morte, e o desafio Iron Butt. Mas escolhi esse roteiro, uma estrada reta e em perfeitas condições, não pela dificuldade, mas pelo prazer de pilotar uma moto entre o céu e o mar azul.
Assim que chegamos à Flórida, fomos a Boca Raton, onde nos hospedamos. Mas foi na loja da Eaglerider, em Fort Lauderdale ,que alugamos nossas motos para essa aventura.
Oscar, meu companheiro da vida e das estradas, escolheu uma BMW GS 1200. Mas para mim, teria que ser uma Harley-Davidson. Não só pela sensação de pilotar um ícone americano que celebra a liberdade, mas porque a Harley tem modelos que são melhores para os mais baixinhos, como é o meu caso. Então, escolhi uma Harley-Davidson 1200 Low Rider. O valor do aluguel de Harley Davidson pelos dois dias, paguei U$ 467,95.
Nessa viagem, percebi um pouco de como os americanos entendem o conceito de liberdade. A Flórida é um dos estados em que o capacete não é exigido por lei, para se andar de moto. Cada um é responsável pela própria segurança. Inclusive, por proteger a própria cabeça.
Mas, por outro lado, os óculos são obrigatórios para proteger os olhos do motociclista de insetos ou poeira, para evitar acidente que pode prejudicar os terceiros em consequência a este fato.
Pegando a estrada rumo a Key West
Saímos de Fort Lauderdale e pegamos o caminho para as Florida Keys, passando por Miami, indo para o Sul. Nessa parte da viagem, pegamos uma forte chuva, que nos obrigou a procurar abrigo em uma área coberta em Homesteade.
Muita gente brinca com a fama da Harley-Davison esquentar muito. Diz que dá para secar as roupas no escapamento dela. Como estávamos ensopados, topei a zoeira, pelo menos para fazer a foto. Mas, brincadeiras à parte, coloquei a bota e as meias para secar no escapamento enquanto a chuva não passava. Quando coloquei, não estavam secas mas estavam quentinhos.
Somente a partir da primeira ilha, Key Largo, a estrada começa a se chamar Overseas Highway. Lá há vários locais com a natureza dos Everglades, os pântanos da Flórida, preservada. Para quem gosta de mergulho, a grande atração é o USS Spiegel Grove, um navio da marinha americana, afundado de propósito, para se tornar um recife artificial.
Algumas pessoas que encontramos no caminho não estavam indo para Key West, mas para Key Largo. Eles eram mergulhadores, e iam ficar no Jule`s Undersea Lodge.
O nome desse hotel é uma homenagem ao escritor francês Júlio Verne, autor de 20 mil léguas submarinas e “criador” do submarino mais famoso da ficção, o Nautilus. O Jule`s é o único hotel submarino dos Estados Unidos. Fica a 30 metros de profundidade, e só se chega lá mergulhando.
Paramos para um cafezinho em Islamorada, a segunda ilha da Overseas Highway. O lugar é lindo e muito simpático. Uma boa opção de lazer é alugar um barco para pescar ou simplesmente passear.
Para o motociclista que gosta de uma estrada que exija mais de sua habilidade e resistência, as 127 milhas de perfeição e retas da Overseas Highway não são um grande desafio. Podem até ser meio tediosos, se você olhar dessa maneira.
Mas o céu e o mar azuis, as pontes e as ilhas formam uma paisagem que só existe ali. A viagem compensa, especialmente se você parar para apreciar aquele cenário.
Para quem quiser acrescentar um desafio e a sensação de perigo na viagem de moto até Key West, uma opção em Islamorada é parar e conhecer o Theater of The Seas. Como vários outros parques aquáticos dos Estados Unidos, lá se pode nadar junto com golfinhos e interagir com leões-marinhos, tartarugas e até com espécies não agressivas de tubarão. O que tem de diferente é a oportunidade de fazer carinho em um aligator, o famoso jacaré da Flórida.
A ilha seguinte é Marathon. Não paramos ali, porque queríamos chegar logo à Key West e passar pelo trecho mais famoso da Overseas Highway, a Seven Miles Bridge. O lugar mais famoso de Marathon é o Dolphin Research Center, um centro de pesquisas de golfinhos onde era filmado o famoso seriado de TV Flipper.
Finalmente chegamos à Seven Mile Brigde! Essa ponte de 10.888 m começou a ser construída em 1978 e foi terminada em 1982. Está entre as pontes mais longas do mundo, e é uma das mais famosas. Muita gente passou a conhece-la no cinema, quando foi “destruída” por Arnold Schwarzenegger no engraçadíssimo True Lies.
Da Seven Mile Bridge vimos vários trechos que sobraram da velha estrada de ferro, a Overseas Railroad. Havia também gente que pescava, andava de bicicleta ou simplesmente caminhava.
A ponte da estrada de ferro passa bem perto da Pigeon Island, onde fica o Institute of Marine Science, onde só dá para chegar de barco.
Última ilha antes de chegar a Key West, Big Pine é famosa pelo Bahia Honda State Park, um lugar lindo, ideal para quem quer nadar, mergulhar, pescar ou passear de barco. Big Pine também é uma reserva ecológica onde quem gosta de natureza ainda pode ver o Key Deer, o cervo das Keys, a menor espécie de veado americano, ameaçada de extinção.
Key West
Depois de pegarmos a chuva, paradas para fotos na Overseas Highway, finalmente chegamos em Key West. Pegamos a entrada para o norte da ilha, a North Roosevelt Boulevard, a caminho do nosso hotel.
Como de moto o deslocamento na cidade não seria um problema, escolhemos um hotel de frente para o mar, na própria North Roosevelt Boulevard, longe do centro turístico da ilha, que é muito cheio.
Hotel com clima cubano
Ficamos no Havana Cabana Resort. Mesmo não tendo café da manhã, o hotel é ótimo. Além do estacionamento fechado, onde pudemos deixar as motos, a piscina, que eles chamam de spa, é linda. E enorme, com um quiosque próximo, para comer ou beber alguma coisa. Estava lotada, com muita gente se refrescando do calor e tomando mojitos.
Mas o que é mais interessante do hotel é mesmo o seu estilo cubano. Como o próprio nome entrega, o Havana Cabana Resort tem uma atmosfera que remete à ilha caribenha, com desenhos nas paredes dos quartos e vários itens dos da decoração fazendo referência à Cuba.
Até o estilo “museu a céu aberto” de Cuba o hotel replica. Na frente, ficam parados carros da década de 1950, como aqueles que os cubanos dão um jeito de manter rodando até hoje…
O hotel tem o serviço de aluguel para scooters e bicicletas, mas fizemos nossos passeios de moto mesmo. Vimos que as duas rodas são uma opção de quem visita key West. É fácil encontrar scooters para alugar na ilha.
No mesmo dia em que chegamos, já fomos conhecer os principais pontos de Key West. Além do nosso hotel, toda a cidade tem muita influência cubana, pois a ilha fica a menos de 150 km de Cuba. Mas a lenda de que dá para ver Cuba de Key West… bom, é lenda mesmo. Nós, pelo menos, não conseguimos.
Passeando de moto, tem muitos lugares interessantes para conhecer. O primeiro que fomos já tínhamos passado, mas agora voltamos para tirar umas fotos, que é o marco do fim da US 1, a Overseas Highway.
De moto pelo centro de Key West
O centro turístico de Key West é lotado, mesmo fora da alta temporada. Além de muitos automóveis, tem muitas pessoas, e evitamos andar no corredor entre os carros porque lá não é permitido o tal feitio, como aqui no Brasil. Mas mesmo tomando cuidado, acabamos irritando alguns americanos.
Umas três vezes, parei no sinal e por distração, queimei a linha da faixa de pedestres nos cruzamentos. Outras vezes, não percebi que um pedestre punha o pé na rua para atravessar. Lá, o costume é que o motorista ou motociclista pare, e dê preferência ao pedestre. Em todas essas vezes, levei bronca dos americanos.
Outra coisa que alguns motoristas se irritavam, e reclamavam, é quando andava muito devagar com a moto.
Nada disso tirou o nosso bom-humor, ou estragou a viagem. Mas é um cuidado que eu recomendo para quem for de moto para lá.
Mas de qualquer maneira, vale muito a pena ir de moto, ou alugar um scooter em Key West, pois lá há muitos lugares para se conhecer. E sempre se perde tempo, e paciência, no trânsito.
(Aquário) Key West Aquarium
É um dos aquários mais antigos da Florida. Foi fundado em 1934. Lá, dá para pegar um filhote de Jacaré no colo e até acariciar um filhote de tubarão no tanque.
Key West Shipwreck Museum
A torre de observação ao fundo faz parte do museu, que simula um armazém do século XIX do magnata da salvagem, Asa Tift. O museu registra 400 anos de naufrágios nas Florida Keys. Tem atrações com atores, alguns filmes, mas também muitos objetos reais. Para quem estiver a pé, o trenzinho estacionado é um passeio pago para conhecer pontos turísticos de Key West.
Porto de Key West
No porto de Key West ancoram diversos barcos de cruzeiro e catamarãs, que vale a pena dar uma olhada.
Marina Bight
A Marina Bight é uma parada imperdível em Key West para que gosta de navegar. Lá é possível contratar barcos para pescarias ou passeios.
Flagger Station
Flagger Station é um terminal de Ferry Boat. Tem esse nome em homenagem a Henry Morrison Flagger que idealizou a Overseas Railroad, a estada de ferro que chegava a Key West.
Mallory Square
Mallory Square é um dos lugares preferidos para quem quer ver o pôr do sol em Key West. Tem vários restaurantes legais, que vale a pena conhecer
White street Pier
O White Street Pier é tão longo que alguns o chamam de “estrada inacabada para Cuba”. É comum ver pessoas passeando com cachorros por ali. Ele foi batizado há alguns anos de píer Edward B. Knight , em homenagem a um cidadão ilustre de Key West.
Lighthouse museum
O Lighthouse Museum foi o primeiro farol construído nas Florida Keys, em 1848, para orientar os navios nas águas rasas e cheias recifes da região. Em 1969 foi desativado e se tornou um museu.
São 88 degraus até o topo, mas vale a vista e a visita.
Oscar e eu tínhamos planejado ficar somente um dia em Key West, mas como o dia já estava acabando e queríamos conhecer mais daquele lugar tão lindo, resolvemos esticar a estadia por mais uma noite.
Como nosso hotel estava lotado, usamos o Booking.com para arrumar outro lugar, o Parrot Key Hotel & Villas. Também era um excelente hotel, com um fundo pé na areia, simulando uma praia. Sem café da manhã, mas com uma garagem para guardar as motos.
No dia seguinte, acordamos e continuamos nossa visita de moto à Key West.
Hemingway house
A casa do escritor Ernest Hemingway, autor de “O Velho e o Mar” vale a visita. Hemingway viveu lá entre 1935 e 1940, com sua segunda esposa, Pauline. Mas o casarão colonial já tinha uma história interessante antes disso. Ele foi construído por Asa Tift (sim, o mesmo do Shipwreck Museum) o maior “salvager” das Keys.
Não temos uma tradução exata em português, mas “salvagers” eram as pessoas que faziam o resgate do que se achava nos destroços dos naufrágios. Pelo jeito, isso era um grande negócio na Key West do Século XIX.
Bahama Village Market
Bahama Village é um lugar cheio História. No século XIX era o bairro dos imigrantes das Bahamas. Era uma parte pobre e meio marginalizada de Key West. Hoje, a coisa mudou. É um dos pontos mais badalados e visitados de Key West, com muitos restaurantes legais.
Selfiemost point
Selfiemost point fica no Sunset Pier. É um lugar com aquelas famosas placas com as distâncias para diversos outros lugares. Não tem nenhum significado especial, mas nos Estados Unidos, tudo é um lugar para atrair turistas.
The Southernmost House
Southernmost House é uma mansão de estilo vitoriano. Foi construída em 1897 pelo Juiz Vining Harris, que era casado com Florinda, filha de Willian Curry, o primeiro magnata da Florida. Lendo sobre o lugar, descobrimos que na época, eletricidade era tecnologia de última geração. Como dinheiro não era problema para Vining Harris, ele contratou o próprio Thomas Edison para fazer o projeto elétrico da “Casa Mais ao Sul”.
Na época da Lei Seca (1919-1933), se tornou uma “speakeasy”, uma casa de tolerância. Em 1940, se tornou um night club chamado Café Cayo Hueso, frequentado por Ernest Hemingway, Tennessee Williams, Gore Vidal, Truman Capote, Tallulah Bankhead, Louis Armstrong e Charles Lindberg.
Em 1949, se tornou novamente uma residência privada, mas continuou recebendo hóspedes ilustres. Estiveram lá os presidentes americanos Harry Truman, Dwight Eisenhower, John Kennedy, Richard Nixon e Jimmy Carter, além do rei da Espanha, Juan Carlos. Hoje, é um hotel super exclusivo, com apenas 18 quartos.
South Beach e Emma Carrero Cates Pier
South Beach é a praia mais ao sul de Key West. É uma praia pública com águas rasas e calmas, ela está localizada próxima aos principais pontos turísticos da cidade, o que faz com que seja bastante frequentada durante o verão.
Próximo da praia, está o pier Ema Carrero Cates Pier, que vale a pena dar uma paradinha para tirar fotos das maravilhosas águas cristalinas e ficar algumas horas admirando as vistas do golfo do México.
Southernmost Point
Southernmost point, o ponto mais ao sul dos Estados Unidos é um dos lugares mais fotografados de Key West. É quase uma “obrigação” para quem visita a ilha, tirar uma foto ao lado do famoso marco.
Confesso que a fila me desanimou um pouco de tirar a minha. E como não podia deixar passar, tirei uma foto de moto, que escolhi como a foto principal desse post.
Viagem de volta de Key West.
Na manhã do terceiro dia de viagem, acordamos bem cedo, pois tínhamos de devolver as motos em Fort Lauderdale até as 12:00h.
Mas mesmo assim, deu para apreciar a paisagem maravilhosa da Overseas Highway no caminho para o continente. E ao contrário da ida, não pegamos uma gota de chuva, o dia estava lindo.
Depois de conhecer a história de Key West, e como a tentativa de construir a ferrovia até lá moldou a história da cidade, comecei a reparar ainda mais nos trechos desativados da ferrovia que encontramos no caminho.
Bem, essa foi nossa viagem de moto até Key West, pela Overseas Highway. Espero que tenha gostado, e até a próxima.